Sabem aqueles momentos em que sabemos que alguma coisa vai mudar?
Aqueles momentos em que só esperamos ter coragem suficiente para que essas mudanças permaneçam com força e vontade?
Sinto que estou a passar por um desses momentos. Neste momento só me lembro da minha amiga A. que de cada vez que tem tosse diz que vai deixar de fumar. Muitas vezes chega mesmo a dizer: “Deixei de fumar”. Até hoje ela não conseguiu manter a sua palavra, mas é aqui que eu penso que a minha situação se distingue da dela. Eu não estou a falar sobre isto, estou apenas a escrever para mais tarde recordar.
Desde que me lembro da minha existência, que tenho excesso de peso. Nunca consegui correr tanto como os outros, nunca consegui me esconder nos esconderijos normais, sempre fui o maior destaque da fotografia e não no “bom” sentido. Curiosamente, sempre fui das mais flexíveis...
Muitas foram as vezes que escrevi sobre isto e muitas foram as vezes que desesperei com este assunto. Passei por altos e baixos, perdas e ganhos (de peso e de auto-estima).
Enfim, nunca nada foi de uma importância tão grande na minha vida, como isto. E, como tal, penso e repenso nisto muitas vezes.
Tal como a A., já prometi, já jurei, já afirmei que iria perder peso definitivamente, mas chego sempre a um ponto em que estagno. Não sei como nem porquê, mas a força de vontade simplesmente desaparece.
Por muito frustrante que isto possa parecer, consegui até agora lidar mais ou menos com a questão e tudo o que isso implica.
Desde as cadeiras que são sempre muito pequenas, ao cinto do avião que tem sempre que ficar no máximo, até à vergonha de comer com desconhecidos.
Tudo isso passou e por vezes, continua a passar-se, mas não é de longe o mais importante.
O mais importante é realmente a minha saúde. Neste momento estou doente. Tenho uma virose gástrica, diagnosticada na quarta passada. Tenho tido dores e já estive para voltar ao hospital vezes sem conta, porque pura e simplesmente acho que tenho algo mais grave que não foi diagnosticado.
Há uma semana que mal como e isto afectou-me tanto física como psicologicamente.
Fisicamente é óbvio que me sinto fraca (isso de que os gordinhos têm reservas acho que é mentira), mas psicologicamente sinto-me mais leve. A falta de comida está a fazer-me pensar com mais clareza.
Também é óbvio que tenho consumido televisão como se não houvesse amanhã. Por alguma razão que desconheço, só passam filmes e programas em que aparecem pratos deliciosos e só coisas que eu não posso comer agora.
Há vezes que me zango com a televisão, mas acho que o Universo me está a enviar um sinal, como costumo dizer.
Acho que não tenho aproveitado bem a comida. Sabem, não sou daquelas pessoas gordas que se senta horas à mesa e que o seu dia gira em torno da próxima refeição.
Gosto de comer, sim, mas como muito para sobreviver. Aprecio vários tipos de cozinha e gosto de cozinhar e principalmente fazer bolos. Mas não sou apaixonada por comida ao ponto de ter o excesso de peso que tenho.
Percebi que o melhor da comida me está a passar ao lado, apesar de comer bastante. Como para não pensar. Como para compensar. E tudo isso está a impedir-me de viver a vida com o fluir que eu gostava que tivesse.
Estou a abrir os olhos e só quero ter coragem para manter e não me esquecer, das dores e do que tenho sofrido nesta ultima semana.
E principalmente, não quero me esquecer de mim. E não fazer da comida o que sou, mas o que sou na comida.
Não sei se isto faz algum sentido, mas é o que me vai cá dentro agora.
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