Eu quero escrever sobre o que aconteceu hoje. Porque foi hoje e porque nunca mais quero escrever sobre isto.
Um dos meus tios suicidou-se esta manhã. Com um tiro na cabeça.
Parece mentira não é? Parece tirado de um filme não parece? Parece que é uma brincadeira de mau gosto?
Não é. É a mais pura das verdades. Pode ter havido mil e um motivos para isso acontecer. Eu não sei e talvez ninguém venha a saber. Mas tudo isso é relativo, neste momento.
Já passei pela morte de alguns familiares ao longo da minha vida. Todos eles por já serem velhinhos ou por serem velhinhos e estarem doentes. Nunca isto. O que se sente é diferente. Não é só tristeza por sabermos que nunca mais vamos ver ou ouvir aquela pessoa. Neste caso, há mais qualquer coisa que vem ao de cima, mas que não sei explicar por palavras. Parece-me com raiva mas não é.
E depois também há o choque. Talvez por estar longe seja ainda mais abstracto. O choque não vem só da surpresa por algo inesperado ter acontecido. O choque vem da completa incompetência que sentimos por não saber o que dizer ou fazer.
Eu gostava do meu tio. Era um homem tranquilo, igual a si mesmo e que inspirava confiança. Para mim, demasiado conservador e rígido, mas é só a minha opinião.
Fico triste por saber que esta foi a sua única e última opção. Que para ele não havia outra saída. Que foi isso que ele pensou e sentiu.
Se há alguma coisa boa que se pode aprender com isto, que seja o valorizarmos a família. Verdadeiramente. Que se parem com as discussões mesquinhas e o diz que disse. Porque no meio do caos das vossas discussões vão havendo vítimas. Umas mais visíveis que outras.
Enquanto ainda aqui estamos devíamos apreciar-nos uns aos outros. No mínimo. No mínimo...
A morte é a única coisa que não podemos reverter, é o que se diz. A própria palavra tem o peso da sua definição. Também torna difícil pensar ou escrever sobre o futuro. É um teste ao nosso optimismo e força de vontade. É a palavra mais forte que existe.
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