Eu nasci em berço de ouro. Nunca percebi muito bem esta expressão. Na verdade, imaginava sempre um berço mesmo feito de ouro e perguntava-me se isso seria confortável e quente.
Imagino que não.

Imaginações à parte, esta expressão significa que se nasceu num meio de elite. Não necessariamente das famílias ricas (porque sabemos que muitas delas realmente não têm onde cair mortas), mas na elite da sociedade. Até vir viver para Lisboa com 17 anos, sempre fui da turma das filhas e dos filhos dos senhores e senhoras supostamente importantes e conhecidos da Madeira.

Assim que pisei o "continente" tudo mudou. Eu conheci outras pessoas e afastei-me de tudo e todos os que me viram crescer. Não foi propositado mas aconteceu naturalmente. Aos poucos, aquelas pessoas que tinham feito parte da minha adolescência começaram a ser ideias distantes e para mim, sempre iguais. Acho que até hoje não consigo reconhecê-las como adultas.

E graças a esta coisa maravilhosa que temos hoje em dia e que nos faz saber de tudo e de todos, tenho vindo a descobrir que muitos se estão a casar, alguns a ter filhos e por aí em diante...
Por vezes abro as suas páginas para perceber que percurso fizeram e penso se farão o mesmo comigo.

Lembro-me claramente numa aula de alemão no 12º ano, da professora perguntar a cada um "o que gostariam de ser quando fossem grandes". 99% da turma respondeu que queria seguir Direito e eu respondi que queria tirar Medicina Tradicional Chinesa. Por aqui talvez possam ver a diferença...

Assim o fiz e também assim como o fiz, também o desfiz. E passados dez anos de ter pisado esta cidade entrei no mundo da restauração. Filho de peixe sabe nadar. Outra expressão deliciosa.

Ainda não casei, ainda não tive filhos, não tirei um curso reconhecido oficialmente, não comprei casa, não comprei carro, não tenho uma conta poupança, partilho casa com mais 3 pessoas e além disso, ainda sou lésbica. Tudo em mim saiu completamente ao lado do que "deveria" ter sido.

Percebo por esta altura que não vou chegar a conclusão nenhuma com este post, mas tinha de escrever isto depois de ver as fotografias de casamento da Bela, a rapariga que uma vez deu uma festa de aniversário em que eu "alinhei" com um rapaz chamado André, que era gordinho como eu e por isso toda a gente achava que devíamos namorar.