15/05/13

Tu chegaste à hora marcada. Nem antes, nem depois.
Lá em cima no 5º andar senti-te chegar.
Tenho tudo? Pensei para mim. Dinheiro, chaves, telemóvel. Pus perfume, sim. O cabelo. Bem, o cabelo é o que se pode arranjar. Estou pronta. Vamos a isto.

Hoje é o dia em que vou dizer-te que gosto de ti. Ainda não decidi se antes, durante ou depois do jantar. É quando a coragem vier.

Entro no carro e tenho aquele momento que gosto de chamar "momento de apneia". Não existe tempo, não existe espaço. Nada. Só aquela sensação de se ter chegado perto de algo que queremos ter próximo. Não há assim uma forma de o descrever.

- Onde vamos?
- Vai andando, eu vou explicando.

Hoje também é o dia em que vou mostrar-te que a melhor vista de Lisboa é na outra margem. Tu não sabes e eu só rezo para que gostes. Não sei se te lembras, mas uma vez perguntaste-me se eu sabia qual era o melhor sítio para ver a cidade. Na altura disse que não, porque pensei logo em fazer-te esta surpresa.

Na viagem vamos falando de como foi o teu dia, de como foi o meu. Peço-te para ires em direcção à ponte. Já tínhamos combinado que não farias perguntas mas eu sentia o teu nervoso miudinho por não saber onde íamos.
Ignorei-te. Posso agora dizer-te que me custou, mas ignorei-te.

Queria dizer-te logo tudo. Onde íamos, o que tinha planeado dizer-te e fazer-te. Estava a saltar-me do peito. Mas controlei-me.

Guiei-te até ao restaurante. Entrámos e não estava ninguém. Apenas uma pessoa à entrada que nos recebeu e nos indicou a nossa mesa. Aquela no centro, encostada à parede de vidro e de onde se podia ver Lisboa inteira.

Nesse momento, quase quebraste o nosso contrato e quiseste saber porquê que não estava lá ninguém.
Afinal de contas, era Sábado à noite.

Depois pude contar-te que não só reservei o restaurante inteiro só para nós, como fiz o pedido especial ao cozinheiro de criar a ementa com ele.
Tentei incluir tudo o que gostas. O que não foi difícil pois na verdade bastava ter chocolate e já serias feliz.

Por cada prato que serviam, eu dava uma explicação sobre como ele tinha sido feito e o porquê. E também por cada prato fazia-te um elogio. Aleatório. O que me vinha à cabeça.
O objectivo era te sentires a pessoa mais importante do mundo.

Quando olho para esse dia penso que ainda bem que deixei a declaração para depois do jantar. Nada é por acaso.

Como não podia deixar de ser, o jantar terminou com chocolate. Um prato, duas colheres.

Depois houve aquele momento em que tudo parou.
Recostaste-te na cadeira, satisfeita com o meu presente. Agarraste no copo de vinho (que também foi escolhido a pensar em ti, claro) e perguntaste-me:
- A que se deve tudo isto?
Eu respirei fundo e disse:
- Deve-se a ti claro. Este é o meu agradecimento por teres entrado na minha vida e por me teres permitido entrar na tua.

Não tive coragem de dizer mais nada. Naquele momento o medo apoderou-se de mim e achei que seria melhor ficar por ali. Teria sempre o argumento de que tinha sido apenas uma forma de celebrar a nossa amizade.

Mas tu não te calaste.
- Então deixa-me contar-te uma coisa. Eu não sabia onde vinha nem o porquê. Mas sabia que este momento ia chegar. E deixei-te pensar que não percebi absolutamente nada. E agora é a minha vez de fazer-te uma surpresa.
- Tu és a pessoa mais bonita que já conheci em toda a minha vida. A única coisa que não gosto em ti é o facto de ainda não teres percebido que não sei viver sem ti. E mais, não sei o que queres de mim mas eu sei o que quero. Quero-te a ti, para mim. Para sempre.

O "momento de apneia" tornou-se plural e até hoje não sei mesmo o que aconteceu nos minutos seguintes.
Sei que nesse dia já não me deixaste em casa. Subiste comigo e nunca mais foste embora.

4 comentários:

  1. Oh pá eu que sou uma pessoa que não se deixa levar pelas emoções achei tão bonito! Há ali uma parte lamechas e tal mas faz todo o sentido que a tenhas escrito porque tu és lamechas.

    Gostei, gostei!

    Mais?

    (a tua irmã)

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  2. LOL todo ele é lamechas! :D É essa a ideia sua tonta.
    Beijo

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  3. Ca paneleirice pegada! Culpada sou eu que ainda perco tempo a ler isto -_-
    JC

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  4. Podes reservar o restaurante e convidar que eu aceito.


    (a irmã de alguém)

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